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Epidemias: Em que a história pode nos ajudar?


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Por:

*Jussara Prates dos Santos Girardi




  A pandemia por conta da disseminação do coronavírus tem gerado insegurança e prejuízos em larga escala, seja pelo elevado número de óbitos que afeta direta e indiretamente as pessoas, seja pela “paralisação das atividades econômicas”. Por ser um vírus ainda pouco conhecido dos cientistas e de rápida propagação, tem causado angústias e pressões psicológicas na sociedade.


É inacreditável esse contexto caótico, digno de roteiros para o cinema. Inaceitável que uma sociedade cuja tecnologia e capital dominam suas ações, que expõe a sua evolução intelectual e modelo econômico como símbolo de avanços e modernidade, esteja sendo nocauteada por um vírus.


Essa situação não é necessariamente, uma “novidade”, (o vírus sim!). É contraditório para o nosso tempo, pois a ciência, a comunicação, a tecnologia e todo o aparato pós moderno deveriam ser utilizados de formas eficientes na prevenção, combate e controle desse e outros problemas. Ao que parece, o coronavírus será mais uma das sucessivas e cíclicas epidemias que ocorreram ao longo da história da humanidade. Muito se tem falado sobre isso, mesmo assim, nem todos sabem ou compreendem o que é um vírus, ou uma epidemia. Assim, numa tentativa de contribuir para a compreensão desse momento de crise e pandemia, comecemos pelo óbvio...


A palavra "vírus", do latim, significa toxina, fluido venenoso. Os vírus são organismos biológicos microscópicos, acelulares (não possuem células), são parasitas que se destacam principalmente pelas doenças causadas no homem, entretanto, eles não parasitam apenas as células humanas. Esses organismos, que só se reproduzem no interior de células hospedeiras, podem infectar qualquer ser vivo, desde uma bactéria até uma planta, por exemplo.


São considerados parasitas intracelulares na medida em que necessitam das células para se multiplicarem (células hospedeiras) ou replicarem seu material genético, visto que não possuem um metabolismo próprio. O ciclo reprodutivo desses organismos é composto de 4 etapas: entrada do vírus na célula hospedeira; eclipse (inatividade do vírus, genericamente conhecida como “incubação”); multiplicação do material viral (cópias da matriz); liberação dos novos vírus. Em outras palavras, no processo de reprodução dos vírus há a duplicação do material genético viral e a síntese das proteínas na medida em que ele inibe o funcionamento normal da célula.


Decorre dessa dinâmica a necessidade do isolamento social. Além disso, deve-se compreender que o processo progressivo de seleção adaptativa para a sobrevivência das espécies, que ocorre cotidianamente na natureza, envolve importantes fenômenos que interferem no estado de saúde das populações humanas. Os microrganismos fadados à sobrevivência têm facilidade de adaptação em um tempo curto e essa habilidade garante sua supervivência até agora. Além desses sobreviventes, todos os outros organismos apresentam essa habilidade de adaptação, embora não de forma tão brilhante como os primeiros.


Na medida em que os humanos modificam o ambiente onde vivem aumentando as chances de sobrevivência. Os microrganismos também se modificam para aumentar as suas chances. Assim, outros seres evoluem e se estabelece um novo ciclo.


Em nosso contexto, não é possível compreender as epidemias sem abranger a velocidade dos deslocamentos populacionais, os quais devem ser levados em consideração na rapidez das medidas de controle implementadas, ou seja, na vigilância dos agravos transmissíveis no mundo globalizado.


Fato é que a história das epidemias acompanha a da humanidade, conforme a seguir:


Peste Negra - 50 milhões de mortos (Europa e Ásia) – 1333 a 1351 - A peste bubônica ganhou o nome de peste-negra por causa da pior epidemia que atingiu a Europa, no século XIV. Ela foi sendo combatida à medida que se melhorou a higiene e o saneamento das cidades. Causada pela bactéria Yersinia pestis, comum em roedores como o rato. É transmitida para o homem pela pulga desses animais contaminados.


Guy de Chauliac fazendo uma investigação em um corpo com peste negra.



Cólera - Centenas de milhares de mortos – 1817 a 1824 - Conhecida desde a Antiguidade, teve sua primeira epidemia global em 1817. Desde então, o vibrião colérico (Vibrio cholerae) sofreu diversas mutações, causando novos ciclos epidêmicos de tempos em tempos. Se propaga por meio de água ou alimentos contaminados.



Tuberculose - 1 bilhão de mortos – 1850 a 1950 – Os sinais da doença foram encontrados em esqueletos de 7 000 anos atrás. O combate foi acelerado em 1882, depois da identificação do bacilo de Koch, causador da tuberculose. Nas últimas décadas, ressurgiu com força nos países pobres, incluindo o Brasil, e como doença oportunista afeta muitos pacientes de Aids, é altamente contagiosa.



Varíola - 300 milhões de mortos – 1896 a 1980 - A doença atormentou a humanidade por mais de 3 000 anos. A vacina foi descoberta em 1796. O Orthopoxvírus variolae era transmitido de pessoa para pessoa, geralmente por meio das vias respiratórias.



Gripe Espanhola - 20 milhões de mortos – 1918 a 1919 - O vírus Influenza é um dos maiores carrascos da humanidade. A mais grave epidemia foi batizada de gripe espanhola, embora tenha feito vítimas no mundo todo. Propaga-se pelo ar, por meio de gotículas de saliva e espirros, provoca fortes dores de cabeça e no corpo, calafrios e inchaço dos pulmões.



Tifo - 3 milhões de mortos (Europa Oriental e Rússia) – 1918 a 1922 - A doença é causada pelas bactérias do gênero Rickettsia. Como a miséria apresenta as condições ideais para a proliferação, o tifo está ligado a países dos subdesenvolvidos, campos de refugiados e concentração, ou guerras. O tifo murino (ou endêmico) é transmitido pela pulga do rato.


Os exércitos de Napoleão Bonaparte foram atingidos pelo tifo epidêmico durante a Campanha da Rússia.


Febre Amarela - 30 000 mortos (Etiópia) – 1960 a 1962 - O Flavivírus, que tem uma versão urbana e outra silvestre, já causou grandes epidemias na África e nas Américas. A vítima é picada pelo mosquito transmissor, que picou antes uma pessoa infectada com o vírus, pode ser tratada, mas também apresenta-se de forma mais grave, que podem levar à morte.




Sarampo - 6 milhões de mortos por ano – Até 1963 - Era uma das causas principais de mortalidade infantil até a descoberta da primeira vacina, em 1963. Com o passar dos anos, a vacina foi aperfeiçoada, e a doença foi erradicada em vários países, no Brasil o sarampo retornou nos últimos anos. Altamente contagioso, o sarampo é causado pelo vírus Morbillivirus, propagado por meio das secreções mucosas (como a saliva, por exemplo) de indivíduos doentes.



Malária - 3 milhões de mortos por ano – Desde 1980 - Em 1880, foi descoberto o protozoário Plasmodium, que causa a doença. A OMS considera a malária a pior doença tropical e parasitária da atualidade, perdendo em gravidade apenas para a Aids. A contaminação ocorre pelo sangue, quando a vítima é picada pelo mosquito Anopheles contaminado com o protozoário da malária. O protozoário destrói as células do fígado e os glóbulos vermelhos e, em alguns casos, as artérias que levam o sangue até o cérebro.



AIDS - 22 milhões de mortos – Desde 1981 - A doença foi identificada em 1981, nos Estados Unidos, e desde então foi considerada uma epidemia pela Organização Mundial de Saúde. O vírus HIV é transmitido através do sangue, do esperma, da secreção vaginal e do leite materno. Destrói o sistema imunológico, deixando o organismo frágil a doenças causadas por outros vírus, bactérias, parasitas e células cancerígenas.



Coronavírus (CID10) é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China. Provoca a doença chamada de coronavírus (COVID-19). Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa. O período de incubação é o tempo que leva para os primeiros sintomas aparecerem desde a infecção por coronavírus, que pode ser de 2 a 14 dias.

    As investigações sobre as formas de transmissão do coronavírus ainda estão em andamento, mas a disseminação de pessoa para pessoa, ou seja, a contaminação ocorre por gotículas respiratórias ou contato. Ainda não está claro com que facilidade o coronavírus se espalha de pessoa para pessoa. Apesar disso, a transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como: gotículas de saliva; espirro; tosse; catarro; contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão; contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

    O período médio de incubação por coronavírus é de 5 dias, com intervalos que chegam a 12 dias, período em que os primeiros sintomas levam para aparecer desde a infecção.

       O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão: Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool; Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas; Evitar contato próximo com pessoas doentes; Ficar em casa quando estiver doente; Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo; Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência.

       Importante lembrar que os vírus, bactérias e fungos, assim como todas as formas de vida estão em permanente mutação e adaptação, por isso o homem nunca está imune. Já sabemos que entre as principais formas para prevenir a contaminação são medidas básicas de higiene e civilidade.

   Se houvesse investimentos adequados em saneamento, educação, moradia, em centros de pesquisas e inovação e investimento em saúde pública, mal perceberíamos o impacto desses microrganismos e não estaríamos impotentes e paralisados diante de uma “nova versão” viral.



    E se você é daqueles que acha que o Estado já gasta muito com as questões sociais, lamento informar: Em todas as épocas as epidemias custaram muito caro e a conta foi paga por todos... Foi por essas questões que iniciei este texto dizendo que é inacreditável que a humanidade esteja, mais uma vez, em meio a mais uma epidemia. Aprendemos pouco com a história. Que pena!


* Jussara Prates dos Santos Girardi - Escritora, Historiadora, especialista em Educação e em Gestão de Arquivos. Graduanda em Ciências Biológicas.


Saiba mais:

https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#transmissao

http://www.ufrgs.br/labvir/material/aula1bvet.pdf

Epidemiologia e medidas de prevenção do Dengue

Organização Mundial de Saúde (OMS) e Fundação Oswaldo Cruz

Epidemias. Rita de Cássia Barradas Barata

Conceitos epidemiológicos e as pandemias recentes: novos desafios. Suellen Silva Araújo Magalhães1, Carla Jorge Machado2.

http://www.scielo.br/pdf/cadsc/v22n1/1414-462X-cadsc-22-01-00109.pdf



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